terça-feira, 16 de junho de 2009

Diet ou Light:


Qual será o produto mais adequado? Se você é paciente diabético, certamente deve ter respondido que é o diet. Mas cuidado! Nem todos os produtos diet são isentos de açúcar e existem alguns light que, na verdade, são diet. É preciso estar atento a certas armadilhas, que, muitas vezes, podem ser checadas no rótulo do alimento.

De acordo com Enilson Portela, professor de Nutrição da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e nutricionista do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), do Rio, as verdades e mentiras da questão diet/light estão na embalagem. "Além de procurar a ajuda do profissional que o atende para esclarecer sobre o assunto, o paciente deve sempre ler o que está escrito nos produtos antes de ingeri-los", adverte.
Ele acrescenta que esse cuidado deve ser ainda maior quando o alimento for importado, já que nem sempre a tradução do rótulo caracteriza a verdadeira realidade do que será consumido, além de nem todas as pessoas dominarem uma língua estrangeira. "O produto dietético deve ser usado apenas como complemento da alimentação e consumido de forma controlada", afirma.
O endocrinologista Antônio Carlos Lerário, chefe da Unidade de Diabetes do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, concorda com Enilson tanto quanto à consulta que o portador do diabetes deve fazer ao médico e ao nutricionista sobre sua alimentação, como com o cuidado que deve ter em relação aos produtos diet e light. Para ele, esses alimentos são alternativas que os pacientes têm para montar mais facilmente uma dieta. Mas, nem por isso, podem ser consumidos à vontade.
"Antes de mais nada, não se deve comer muito. A alimentação do diabético tem de ser balanceada e, se ele ingerir, por exemplo, três vezes mais quantidade de pão só porque é diet, vai engordar. Além de verificar a ausência de açúcar refinado em um produto, é preciso estar atento ao excesso de carboidratos, que vão aumentar a glicemia; de gorduras, que vão aumentar os triglicerídeos e o colesterol; e de proteínas, que podem influir na função renal, desencadeando a nefropatia diabética", afirma.
De acordo com o Ministério da Saúde, alimentos dietéticos são aqueles produzidos de forma que sua composição atenda às necessidades de indivíduos com exigências físicas, metabólicas, fisiológicas e/ou de doenças específicas. Nesses casos podem ser incluídos os indicados para as dietas com restrição de açúcar ou de sal, gorduras, colesterol e proteínas.
Vale frisar que isso não quer dizer que, apenas por ser diet, um produto esteja liberado para os diabéticos, pois pode conter açúcar e terem dele retirado apenas o colesterol, por exemplo. "Para que o portador do diabetes possa consumir um alimento dietético, obrigatoriamente deve vir assinalado na embalagem que o mesmo não contém açúcar", adverte Enilson.
"Quanto ao light', continua ele , 'a legislação brasileira não define direito o que seria um alimento dessa categoria. Mas, para ser considerado assim, é necessário que apresente uma redução na quantidade total de um de seus componentes. Há um referencial de, no mínimo, 25% a menos na quantidade de um dos ingredientes para que um produto seja light".

O Light que é Diet

Na verdade, a idéia de produto light - ao contrário do que acontece com a imagem do diet - está muito mais associada à cultura do corpo, à estética, não a uma disfunção de saúde. E até se encontram bebidas consideradas light que, em realidade, são dietéticas. É o caso dos refrigerantes cujo açúcar cedeu lugar a adoçantes artificiais, como aspartame, sacarina, entre outros.

A antiga Coca-Cola diet saiu do mercado e a que existe atualmente com a designação light também pode ser ingerida por diabéticos. "A diferença da nova para a antiga versão do produto se deve aos seus componentes edulcorantes (substâncias adoçantes). O sabor melhorou sensivelmente. Na minha opinião, a Coca light é um refrigerante dietético porque foi retirado o açúcar da bebida tradicional", afirma Enilson.

Atenção ao Chocolate
Quem consome produtos diet apenas com a finalidade de se "manter na linha" também deve ficar atento. Às vezes, os alimentos dietéticos engordam mais do que os originais. Isso acontece com o chocolate, por exemplo, que, para conservar sua consistência após a retirada do açúcar, ganha muito mais gorduras, fazendo com que sua quantidade calórica fique bem maior do que a do não dietético.

"A gordura do chocolate também auxilia no desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Mas, como esse não é um alimento de primeira necessidade no dia-a-dia dos diabéticos, em alguma ocasião especial, como a Páscoa, podemos ajustar a versão diet desse produto à sua alimentação", diz Enilson.

A Frutose das Geléias
Mas há também alimentos diet que, apesar da ausência do açúcar refinado em sua preparação, contêm bastante frutose, um açúcar de velocidade de absorção menor do que a glicose, mas também capaz de aumentar as calorias da alimentação diária do diabético. Um exemplo disso, segundo Enilson, são as geléias dietéticas, principalmente as importadas.

"Se for consumida em grande quantidade, além de fornecer muitas calorias, a geléia dietética também pode contribuir para alterações, como o aumento de gordura no sangue. Pode ainda aumentar a glicemia do diabético se a quantidade de calorias for maior do que ele necessita. E, tornando-se obeso, mais uma vez o paciente corre o risco de doença cardiovascular", adverte Enilson.

Banana-Passa, Pães e Biscoitos: Calorias
Outro produto dietético que merece bastante atenção é a banana-passa. A banana, por si só, tem um tipo de carboidrato que favorece o aumento rápido do açúcar no sangue. Sendo assim, quando essa fruta é dessecada sua caloria aumenta ainda mais. "É como se você pegasse um cacho delas e o transformasse num pacotinho. Ao ingerir o equivalente a 6 ou 7 unidades de banana, o açúcar no sangue aumenta", explica o nutricionista, acrescentando que o mesmo acontece com o caqui e a uva.

No que se refere aos pães, Enilson também alerta quanto à quantidade. E não só para quem tem diabetes, como também para os que apenas não desejam engordar. Tanto os diet quanto os light têm farinha de trigo em sua composição, que é rica em carboidrato, dando em açúcar como produto final.

Os carboidratos também estão presentes em alguns achocolatados. E com percentual altíssimo: cerca de 60%. Apesar de estamparem no rótulo a ausência de açúcar, eles podem engordar.

Segundo o nutricionista, os melhores biscoitos para os diabéticos são os diet que não contêm açúcar refinado e são ricos em fibras. Eles visam manter normalizado o trânsito intestinal e ainda têm a capacidade de saciar a fome. Mas é preciso verificar na embalagem a ausência de açúcar na fórmula, já que esses produtos são vendidos nas versões diet, light e tradicional.
Segredos dos Adoçantes

Segundo o nutricionista Enilson Portela, deve-se ficar de olhos bem abertos também com os adoçantes. Ele diz que os melhores para quem não deseja engordar são os que vêm em gotas. Isso porque os vendidos em pó, imitando o açúcar refinado, geralmente contêm lactose ou frutose, que têm mais calorias do que os em forma líquida.

Mas, apesar de serem mais caros, já existem no mercado outros adoçantes, como aqueles à base de sucralose, que, mesmo em gotas, não deixam gosto amargo, característico de alguns edulcorantes.

"Hoje o paciente diabético tem condição de ter uma qualidade de vida fantástica. Primeiro, porque o seu tratamento é baseado numa alimentação adequada, na atividade física e em sólidas bases educacionais. Segundo, porque esses três pilares sempre significam saúde, seja para portadores de diabetes ou não", conclui o nutricionista.

Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes